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Caiu o pano nesta sexta-feira (06) da 16 Conferência do Observatório Internacional da Democracia Participativa (OIDP), que teve lugar na cidade da Matola.

O Município da Matola foi o centro da democracia participativa durante três dias - 04, 05 e 06. Cinco continentes, 40 países, perto de 200 cidades, 1500 delegados fizeram parte deste evento que, para muitos foi um sucesso. Para além dos vários temas abordados, os visitantes puderam visitar uma tenda de exposição da cultura e negócios do país. As danças tradicionais nacionais constituíram  o apogeu da efeméride.

Após o encerramento do OIDP, o Correio da Matola interpelou alguns participantes para colher alguns depoimentos. Leonardo Bulhões, secretário da Prefeitura de Caruaru, Brasil revelou ter ficado impressionado com o nível de organização e da hospitalidade dos moçambicanos. "Faz com a gente tenha vontade de voltar, essa hospitalidade é impressionante. Faz ter vontade de nos abrir mais. A democracia em Moçambique está em processo, mas vejo muito empenho dos dirigentes, o nível de organização é muito bom", começou por dizer Leonardo que deixou um conselho para Calisto Cossa, "aconselharia ao edil a não ter medo de ouvir pessoas, diminuir o poder. Ter a qualidade de identificar as lideranças, deve fazer com que a participação social seja uma cultura porque as pessoas precisam ser estimuladas a pensar em colectivo".

Para Albino Maheche, antigo combatente, a 16 conferência visava discutir os problemas da Matola em conjunto. Por isso, sente-se grato por ter tido a oportunidade de participar. "Sou matolense, e tenho orgulho de ter participado numa conferência do nível mundial organizada por nós. Partilhamos experiências, pudemos colher por exemplo, ideias de gestão e participação democrática inclusiva de outros quadrantes do mundo, e serviu para alargar o nosso campo de debate e aceitação de ideias, em suma, ajudam-nos a pensar mais seriamente na nossa democracia", comentou Albino, que abordou a tensão política que crassa o país, "se agredimos - matamos pessoas, afinal, no fim, a quem queremos governar?",questionou o ancião de 80 anos de Idade.

"São lições proveitosas que estimulam a nossa existência, como africanos e cidadãos do mundo", afirma com convicção Jaime Gune, que se diz ser matolense de gema. Pesa as palavras e fala como quem educa, "a governação participativa, o envolvimento dos munícipes, a chamada de atenção aos edis para irem ao encontro do povo marcou-me bastante", referiu.

Diferente da maioria dos nossos entrevistados após a conferência, Jaime Gune, colocou o guizo ao gato e criticou os painelistas "muitos apontaram problemas e não avançaram soluções, por exemplo, ouvi um brasileiro a falar do racismo, contudo, não sugeriu como acabar com o mesmo. Em termos suscito, nada disseram sobre como olham o nosso país", atirou.

Indo mais longe, Jaime acusou os países desenvolvidos presentes na conferência, de estarem indiferentes ao momento conturbado que o país atravessa, "as potências que não têm problemas financeiros como nós, não se preocupam com o conflito militar nem a crise financeira, nem mesmo os moderadores sugeriram o debate sobre a realidade do país", disse.

Apesar de tecer algumas críticas, Jaime Gune reiterou que sentir-se satisfeito com a realização da 16 conferência do OIDP na Matola. Entretanto, aponta uma série de coisas que no seu entender mancharam de alguma forma o evento. Exemplificando, citou a falta de tradutores para as  línguas nacionais porque "se fizeram presente pessoas locais que não falam a língua oficial do país. Por outro lado, os oradores usaram excessivamente a linguagem técnica,  ignorando que havia gente sem capacidade de interpretar certos termos", comentou. Terminando, Jaime felicitou o Conselho Municipal da Cidade da Matola,  pelo empenho, determinação, abnegação e solidez com se entregou para a efetivação do OIDP.

De resto, Jaime Gune ao exigir mais dos principais intervenientes da 16 conferência do OIDP faz jus aos pronunciamentos do Chefe do Estado moçambicano, Filipe Nyusi que, no discurso de abertura lembrou que "o principal propósito da democracia é delegar poderes ao povo". Nyusi exortou ainda aos presidentes dos municípios a promoverem o debate de ideias, a democracia inclusiva através da descentralização como forma de fortalecer o modelo de gestão.


O Governador da Província de Maputo, Raimundo Diomba também deixou um apelo ao convidar os moçambicanos a aproveitarem o máximo das experiências partilhadas na conferência. Por sua vez, o anfitrião, Calisto Cossa, edil da Matola, deixou ficar o sentimento de orgulho e satisfação no início e no fim da cerimônia por ter sido o centro mundial da democracia participativa. "Atingimos os objectivos (...) Pudemos interagir com várias cidades e colher experiências", disse Cossa no discurso de encerramento tendo em seguida recebido estrondosos aplausos dos presentes.

Efectivamente, a 16 conferência deu por encerrada na sexta-feira (07), contudo, o Conselho Municipal da Cidade da Matola deu prosseguimento das visitas técnicas aos bairros, sob o lema: " Presidência Municipal Sem Paredes". Sob o comando do Calisto Cossa, a estrutura governativa da Matola escalou o Posto Administrativo da Machava, onde vários cidadãos da urbe apresentaram as suas inquietações.

O Correio da Matola auscultou a sensibilidade dos munícipes quanto a utilidade da ferramenta presidencial sem paredes.

Se para uns, os resultados da presidência sem paredes é inquestionável, para outros nem por isso. Cumule Macondzo, matolense de 71 anos de idade, disse ao Correio da Matola sentir-se satisfeito com abertura de Calisto Cossa porque "há anos que procuro repor a justiça, a minha casa foi demolida no bairro de Tsalala mas hoje (sábado), o presidente escutou atentamente as minhas inquietações e delegou o vereador do Posto Administrativo da Machava para acompanhar-me ao tribunal", contou Cumule que alega estar agradavelmente surpreendido pela possibilidade de falar sem rodeios com o presidente do município.

Quem parece duvidar dos resultados da Presidência Sem Paredes é a munícipe Susana Luis,  que diz nem sequer saber se pode afirmar que foi ou não atendida. "Em 2009 esta idosa ao meu lado me cedeu um espaço que pertence à sua família há mais de 50 anos, no bairro de Tsalala, célula '7'. Ergui uma casa tipo 2, contudo, semanas depois da conclusão da obra apareceu uma cidadã identificada pelo nome de Felismina Matola que alegou ter sido vendida o mesmo espaço pelo secretário Eduardo Timba", contou Suzana para logo em seguida desabafar: "há anos que esse problema se arrasta pelos tribunais e nada de concreto acontece. Nesta presidência aberta eu esperava um pouco mais que uma simples notificação", comentou visivelmente agastada.

Um outro cidadão que pediu anonimato revelou ter pedido há nove meses um espaço para habitação  no Posto Administrativo da Machava e "nunca dizem nada palpável, hoje, nesta presidência aberta tornei a ouvir a mesma música - venha próxima semana", desabafou.

O Presidente do Conselho Municipal da Cidade da Matola, Calisto Cossa entende que a Presidência Municipal Sem Paredes é uma ferramenta que visa uma aproximação e diálogo permanente com o munícipe. "Repare que toda a estrutura municipal está cá presente, para responder às inquietações dos cidadãos", comentou Calisto, que apontou que a maioria da população apresenta problemas relacionados com atribuição de DUATs e conflitos de terra porque sendo a Matola uma cidade em expansão denota muita demanda de espaços para a habitação, empreendimentos industriais ou comerciais".

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