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Corremos o risco de estarmos a ser repetitivos, enfadonhos ou mesmo provincianos. Contudo, temos a convicção de que a Matola é enorme, uma cidade relativa nova, merecendo por isso, da nossa parte, matolenses, uma dedicação redobrada para a difusão de tudo que acontece no município.

Juramos conhecer e dar a conhecer aos munícipes, toda a cidade da Matola, para tal, propusemos-nos visitar os 42 bairros municipais que corporizam a autarquia. Coube ao bairro Nkobe o pontapé de saída, muita coisa ficou por mostrar ou contar, estamos cientes disso, porque somos uma equipa pequena, com meios limitados, por vezes não conseguimos chegar ali e acolá. Já demos também a conhecer o bairro Tsalala. Desta feita, após o grande evento, da dimensão mundial que os matolenses acolheram e organizaram com relativo sucesso, escalamos o bairro municipal de Bunhiça.

O Bairro Municipal de Bunhiça fica localizado no Posto Administrativo da Machava. Faz fronteira com os bairros: Machava Sede, São Damaso, Socimol 15 e Tsalala. Possui uma população estimada em 31.304 habitantes distribuída em 72 quarteirões.

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Como a maioria dos bairros da Matola, Bunhiça tem recebido nos últimos anos mais gente procurando espaços para habitação. Os serviços públicos existentes não satisfazem a procura - dizem os moradores ouvidos pelo Correio da Matola.

Por exemplo, os focos de crime inquietam os munícipes locais, todavia, não existe no bairro um posto policial, uma esquadra, menos ainda. "Só temos um sector policial que conta com sete agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM), é um número insuficiente para as necessidades do bairro", afirmou Virgínia Magaia, secretária do bairro que reconheceu que o crime tomou conta do mesmo.

A moradora do quarteirão '5', Carolina Martins de 69 anos de idade que vive no bairro há 59 anos, clamou por um posto de saúde e a instalação dos serviços do Fundo de Investimento e Patrimônio da Água (FIPAG), "percorremos grandes distâncias para chegarmos as unidades sanitárias, imaginem como é para as mulheres grávidas. A água ou a ausência dela faz parte de outro problema. Os privados praticam preços exorbitantes, vivo apenas com a minha neta e pagamos todos os meses 350 meticais. Afinal, quais são as competências do FIPAG?", questionou agastada.

Sobre a falta de uma unidade sanitária, a secretária do bairro também reconheceu o problema, tendo realçado que a construção de um posto de saúde constitui prioridade para as estruturas administrativas locais. Contudo, até ao momento apenas existe um espaço reservado para o efeito.

A nossa equipa de reportagem garante que tentou ouvir dos moradores do bairro Bunhiça coisas positivas, histórias exemplares, todavia, só ouviu lamentações de vária ordem: da deficiente recolha de resíduos sólidos, das ruas que ficam alagadas e intransitáveis quando chove, dos roubos que se intensificam, da ausência de hospitais e dos alunos que estudam ao relento, enfim , uma lista infindável de queixas.

Se Ranito e Carolina clamam pela iluminação das ruas e um posto policial, Alzira desespera-se pelos preços exorbitantes praticados pelos operadores privados dos furos de água. "Afinal, que mal cometemos nós? Nunca o Estado providenciou água para este bairro", queixa-se Alzira Lurdes de 46 anos de idade e moradora do quarteirão 27, há 25 anos.

Serena, disposta a prestar um serviço de utilidade pública cedendo informação, Virgínia Magaia conversou com o Correio da Matola sobre a vida do bairro. Apontou a necessidade de se construir um posto de saúde, mais salas de aulas porque "temos 38 turmas que estudam ao relento na Escola Primária Completa Bunhiça C. Temos disponíveis três escolas primárias e uma secundária semi -colectiva", disse para depois acrescentar: "precisamos de uma esquadra - veja a quantidade da população. Estamos a queixar-nos dos assaltos que são frequentes, roubos de viaturas, invasão de residências, etc. O bom é que os agentes da PRM tentam responder de uma forma positiva".

Ranito Guimarães, é famoso por salvar várias famílias no quarteirão '27' que, desprovidos de meios financeiros recorrem ao comerciante para adquirir produtos alimentares a crédito. Aceita apontar os problemas mas recusa dar o rosto, "não gosto de fotos", sustenta para em seguida queixar-se do elevado número de desempregados existentes no bairro. "Uma zona que está infestada de jovens sem emprego só pode ter focos criminais acima do normal", comentou. Acusou a edilidade de pela ineficiente, devido a não recolha de resíduos sólidos. Alega pagar uma taxa na compra de energia e não colher benefícios, "pago a taxa de lixo e sou obrigado a pagar terceiros para ter a casa sem resíduos sólidos".
 
De resto, é possível resumir a história da edificação do bairro Bunhiça através da idosa Carolina Martins, dela podemos conhecer as metamorfoses, os desafios e os problemas. Numa conversa longa, que não vale a pena estica-lá sob o risco de desgastar o leitor, a anciã que vive no bairro há três décadas revelou que por volta de 1960 Bunhiça era mato, uma terra digamos, "virgem". Contudo, na paragem Muxina - nome atribuído em homenagem ao chinês que ergueu a primeira loja tinha um aviário sue empregava muita gente, incluindo o seu marido. O proprietário era um português quer fugiu do país em 1976 com as nacionalizações. De lá a esta parte o imenso espaço próximo a empresa Socimol está ao Deus dará, um autêntico covil dos criminosos. "Desde que o português foi embora, o espaço está às moscas. Alguém tentou rentabilizar mas redundou num fracasso. É muita pena ver um lugar que já empregou muita gente transformado numa lixeira e esconderijo de marginais", lamentou Carolina.

Para além do crime e desemprego, a anciã lamenta o abandono por parte das novas gerações da tradição. "Já ninguém respeita a figura do régulo. Neste bairro nem se consome o canhú. Estamos condenados as telenovelas que só difundem vergonhices", reclama antes de dar uma pausa e continuar, "os jovens de hoje em dia, só preocupam-se curtir, e depois cometer crimes. Já mataram um guarda naquele aviário, também foi encontrado um corpo sem vida numa escola. É triste assistir a degeneração de valores da nossa sociedade", desbafou a idosa que se orgulha de ter testemunhado ao vivo e a cores a proclamação da independência nacional no mítico Estádio da Machava na longínqua data de 25 de Junho de 1975.

Bunhiça parece ter em abundância os recintos abandonados, propícios para albergar indivíduos mal intencionados- quem assim diz é Alzira, que aponta um armazém relegado ao esquecimento. "Disseram que iam construir um Posto de Saúde, mas não não indícios disso acontecer".

A moradora anciã Carolina Martins, não aceitou tirar fotos porque alega professar a seita Testemunhas de Jeoava, desde 1977 e não permite tirar imagens para imprensa.

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