Passavam das 15 horas desta terça-feira (10), quando o Correio sentou num dos bancos empoeirados do Parque dos Poetas, situado no coração da cidade da Matola, com dois antigos combatentes. "Lutamos no passado pela Liberdade, hoje, continuamos a lutar pela Paz", diz num tom firme, Albino Maheche, antigo combatente com 79 anos de idade.
"Somos combatentes pela Paz", reitera Jaime Gune, outro antigo combatente matolense, de 70 anos de idade.
São dois antigos combatentes da opressão, da prisão de ideias, de escravidão, dois idosos que têm orgulho de ter lutado por um Moçambique independente, uno e indivisível. Olham para o passado e "cavam" memórias que julgam heróicas. Contudo, "a luta ainda não acabou", gritam em uníssono.
A batalha desses tempos modernos, segundo os nossos interlocutores, não é de armas, porém dura porque visa persuadir os jovens a tomarem as rédeas do país. "Não queremos guerra, almejamos mobilizar a juventude, incutindo nela a ideia da luta pela Paz. Queremos mostrar aos jovens porque lutamos pela independência", afirma Jaime Gune, enérgico e decidido.
Para lograrem os seus intentos, os antigos e actuais combatentes organizam reuniões no contentor da Matola A, "todos os domingos a partir das 11 horas reunimos com alguns membros, antigos combatentes e jovens para discutir o bem do país, na célula A, quarteirão 29. São todos convidados".
Albino Maheche acusa algum desgaste fisico ao caminhar, lento nos movimentos, faz esforço para ouvir, mas não desarma, "a idade avançada meu filho, não pode servir de desculpas para se furtar das responsabilidades. É preciso salvar o país", explicou.
Os antigos libertadores da pátria, interpelados pelo Correio da Matola defendem uma juventude que se inspira pela paz, pelo espírito de solidariedade, do nacionalismo e sobretudo, do trabalho. No entender destes, os jovens devem estar na vanguarda dos destinos da nação. "Não queremos jovens que só se limitam em criticar, queremos jovens proativos. Acreditamos que, com o nosso empenho iremos conscientizar os jovens. Temos no grupo jovens que exportam as nossas ideias para fora", comentaram.
Como forma de mostrar a juventude que combatem a desordem, os antigos combatentes da Matola, contam que já reuniram ao nível do bairro Matola 'A' com a Polícia da República de Moçambique, para ouvir desta o que se tem feito para estancar o crime que, nos últimos tempos tem tomado contornos alarmantes. "Tivemos encontros com a polícia para tentar acabar com o crime no distrito da Matola. Infelizmente, os oficiais nada disseram sobre como resolver a situação. O caos é tal que causa pânico aos munícipes, principalmente no mercado Santos", anotou Jaime Gune.
Ao terminar o diálogo com o nosso repórter, Albino Maheche abordou a tensão política militar que ensombra o país, "há movimentos armados que utilizam guerras para buscar a democracia, para tal, matam, destroem, afinal, no fim da matança e destruição irão governar a quem, as árvores e animais?", questionou, para em seguida assegurar que está contra a violência para a resolução dos problemas. "Somos um povo uno e indivisível, temos a constituição que rege as leis do país. Queremos que os moçambicanos respeitem a constituição e sejamos um exemplo em África. A juventude deve aprender que somos todos moçambicanos apesar das diferenças partidárias", finalizou Jaime Gune.