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Por: Sérgio Raimundo

 

opiniao tensao politica“O País está mergulhado numa tensão político-militar”. Levantam as línguas os mais certos academicamente. “Isto é início de uma guerra”. Baixam os rabos os mais certos só na hora de pagar o imposto. E eu? Que direi de tudo isto? Eu que vivo, também, debaixo de uma tensão doméstica motivada pela falta de água, electricidade e pão? Farta-me tudo isto! Arre! Onde já se viu; um País que abre bazucas só para aumentar o número de impressões de certidões de óbitos nas gráficas públicas? Um País que enfeita com rosas de balas o jardim da democracia; um País que por medo de si próprio sai para outros Países vizinhos em busca de um cálice de Paz e uma fatia de tranquilidade.

Um País que mete pela janela dos autocarros públicos, interprovinciais, uma paisagem de bala e sangue! Um País que encaminha pelos envelopes dos Correios litros de sangue. Um País que dorme, acorda e almoça jornais e televisões que nos mentem; falam-nos de tensão político-militar? Que tesão haverá nessa tensão que move uma guerrilha silenciosa aos quartos de conflito político-militar? Não nos mintam, senhores, isso é uma guerrilha silenciosa que nos quer ver todos dormindo nas almofadas dos caixões. Abram o estômago do País com uma chave-de-fenda vestida de arame farpado e verão todos, verão todos, que o País tem fome.

Tem fome. Fome de beber panos sujos de branco na mesa do sossego; o País quer fumar pombos brancos com asas infintas na boca do estômago. O País quer viajar dentro de si sem ataques. Quer conhecer-se pela janela do autocarro que a bala estilhaçou. Isso é uma guerrilha silenciosa! Pior que uma guerra. E então, digam-me, vocês: como querem acabar com a violência doméstica se ainda promovem a violência nacional? Como “eliminar” os homens catanas se vocês são superiores na arte de matar sem catanas? Digam-me! Tenho pressa. Tenho pressa! Eu quero ver o País lúcido, acordando, movendo-se e acima de tudo tornando-se País.
Chega de armas! Chega de diálogos que só nos gastam quilolitros de água de Namaacha! Chega de observadores que observam a nossa dor e nunca absorvem a chuva que cai em nossas almas. Chega de usar a imprensa para promover uma PAZ CEGA; uma Paz que usa uma bengala branca nas ruas do meu País. Noam Chomsky, em “Armas Silenciosas para Guerras Tranquilas” fala de vocês; nunca se viram lá retratados? Fala de vocês que usam a imprensa para promover a manipulação e manutenção de poder; vocês que mantêm o público na ignorância e na mediocridade; vocês que estimulam o público a ser complacente na mediocridade; vocês que reforçam a revolta pela autoculpabilidade; vocês, senhores, que usam a estrategia da distração para implementar guerrilhas; vocês que criam problemas e depois escondem a fórmula da solução; vocês que fazem brilhar a gradação no espaço público; vocês que sem vergonha dirigem-se ao público como crianças de baixa idade.

Sei que vocês são os guardiões da Paz. Em vossos palácios, arsenais, paiões, quarteis há Paz. Cada bala que vossas armas soltam aumenta a Paz em vossos objectivos militares. Digo-vos: é mais fácil lidar com o verdadeiro dono de algo do que com seu guardião temporário. A Paz não vos pertence; a Paz é um chão que pertence cada passo de todo que é HOMEM DIGNO deste País.
Quero, de volta, o meu País sorrindo sem retalhos de balas na língua!

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