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Por: Sérgio Raimundo

Nos dias que correm, vários movimentos religiosos (principalmente oriundos do estrangeiro) têm mexido com toda Cidade de Maputo, ou até mesmo com todo País. Agora o nível de fé de todo moçambicano subiu, pois já não fala dela só ao domingo ou quando precisa de um consolo Superior; fala dela todos os dias. Ainda bem. A globalização trouxe-nos ventos amargos e doces. Foi através deste gigantesco movimento, que quer tornar o Mundo uma aldeia, que várias congregações religiosas "invadiram" o nosso País para nos trazer a palavra do Senhor. Essas Igrejas chegaram num momento em que de facto o moçambicano precisava de nutrir a sua vida espiritual, visto que acaba(va) de sair de diversas convulsões políticas, sociais e económicas. Aliás, já dizia um pensador, que a religião é o ópio do povo.

 

Surpreende-me hoje ao ver antigos armazéns, antigas fábricas, lojas, oficinas de autocarros e até salas de cinema transformados em Igrejas. Afinal de contas que políticas são seguidas para a instalação de uma Igreja no nosso País? Com que olhos o governo vê este movimento religioso que vem nos fechar as salas de cinema? Será que o cinema não tem nenhum papel social? Deus quando criou o Mundo não precisou de recorrer a um outro já existente, Criou este Mundo onde estamos da raíz até à folha? E porquê vocês ao abrir as Casas do Senhor recorrem as velhas instalações de fábricas, lojas e salas de cinemas? Será que o Altíssimo não Merece uma Casa digna? Será que o número de Igrejas é proporcional ao número de crentes existentes no nosso País? Daqui a alguns anos, se não for revista está "revolução religiosa silenciosa" correremos o risco de termos mais igrejas que crentes.

Estas "igrejas estrangeiras moçambicanizadas" fazem de tudo para chegar a sensibilidade espiritual de todo moçambicano. Já invadiram canais televisivos, estações radiofónicas, páginas de jornais e tudo, com a mais sofisticada técnica de marketing jamais vista. Sempre que lhes apetece promovem "secções de milagres" em campos de futebol e em praças públicas. Este é um sinal que nos próximos anos, estes locais serão encerrados para dar lugar a centros de fé. Uma dessas secções de milagres já tirou vidas num dos estádios, cá entre nós. Os angolanos também ficaram com uma mancha de sangue, há anos, por causa dessas "secções de milagres e glórias do Senhor".

Numa época em que se fala de Unidade Nacional, algumas dessas igrejas propagam na imprensa, através dos seus tele-evangelistas, supostos distritos do nosso país como sendo palcos que se realizam afiliações com o diabo. Dizer que no distrito X, a maior parte da população vive de mãos dadas com o diabo, não será uma autêntica ameaça a Unidade Nacional? Meu país já teve várias células desligadas por questões tribais, agora não quero ver toda a nação dividida por aspectos religiosos ou até mesmo de superstição.

Esta "prosperidade financeira e sentimental", que estas confissões religiosas pregam, encerrou boa parte de salas de cinema, e por via disso várias crianças crescem sem ter visto um filme em uma sala condigna e bem equipada. O cinema, caro leitor, em outros países do mundo, é dito como um auxílio escolar, visto que, ajuda no desenvolvimento da capacidade interpretativa e de abstracção de vários fenómenos. A interpretação é que liga o cinema à educação. Então porque encerrar essas salas?

As antigas fábricas e armazéns não escapam a essa revolução da fé. Agora dão espaço a cenáculos e paróquias. Em sítios onde a longínquos anos funcionavam fábricas e armazéns, porque não erguer bibliotecas, centros culturais de recriação, recintos de competição em áreas científicas para alunos do ensino primário-secundário, salas de exposições para os artesãos que todos sábados queimam de fome em frente à fortaleza de Maputo, salas de debate aberto ou até mesmo, se necessário salas de círculos de leitura para crianças?

Uma dessas igrejas "milagrosas" tentou comprar um antigo local de espectáculos do Porto (Portugal), o Coliseu do Porto. Mas essa ideia de querer transformar aquele local em centro de fé, levou à criação de um movimento de cidadãos (portuenses e não só) que posteriormente comprou a histórica sala de espectáculos. Grande exemplo de patriotismo e unidade.

Não sou contra a existência dessas igrejas, muito pelo contrário, sou a favor. Visto que desempenham um papel preponderante na elevação de valores éticos e morais. Sou sim, contra toda essa tendência de erguer igrejas em qualquer parte, e contra a brusca maneira como se proliferam.

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