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- Publicado em 25 julho 2016

Populares da Matola-Gare lincharam na semana finda um cidadão, supostamente membro de um grupo de malfeitores que tirava sossego a este bairro matolense. O acto ocorreu na madrugada de segunda-feira. O corpo da vítima, já irreconhecível, foi achado próximo da linha férrea, no meio dum caminho que dá acesso ao interior daquele bairro.
Onde jazia, o corpo sem vida, os populares, por ira, deixaram uma catana. Uns suspeitam que a catana foi o instrumento usado para espancar a vítima antes da sua carbonização. Outros referem que a catana era o instrumento principal da actuação da quadrilha de malfeitores que o malogrado fazia parte.
Este acto de “justiça por próprias mãos” deu-se concretamente no quarteirão 01. Entretanto os residentes de Matola-Gare clamam por segurança devido à onda de criminalidade, sobretudo assaltos a domicílios e agressões físicas em plena via pública à noite. De acordo com eles, vários presumíveis ladrões já foram linchados no bairro devido ao desgosto causado pelos malfeitores, de há dias a esta parte.
Linchamento na perspectiva sociológica
O linchamento segundo sociólogo moçambicano Carlos Serra, do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane, em entrevista ao DW, constitui uma justiça privatizada. Isso significa, por mais contraditório que possa parecer, que o linchamento é uma manifestação inequívoca de desordem mas simultaneamente nessa violência cruel, existe um apelo à ordem. As pessoas, segundo ele, querem que haja ordem. O bode expiatório acaba sendo uma figura importante quando quer-se compreender este fenómeno complexo, mas isto é ao nível da periferia. Nos bairros periféricos onde os roubos campeiam, onde a pequena e grande criminalidade estão por todo o lado. Onde há noite não há iluminação, onde as pessoas estão aterrorizadas. É como se fosse uma espécie de fusível que salta, uma espécie de bode expiatório que se procura.
Os linchamentos da sua versão mais clássica, aqueles que nós podemos encontrar aqui em Moçambique, têm como alvo jovens desempregados do sexo masculino. Nas periferias mal iluminadas, pouco policiadas, lá onde o Estado escasseia, isto é - onde falta polícia e iluminação - é onde acontece o linchamento; considera este estudioso.