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- Publicado em 16 setembro 2016

Actualmente tem crescido o número de crianças violadas no município da Matola e não só; assim como em outros cantos do país. A violação e abuso sexual de menores têm deixado as autoridades, que trabalham em prol do desenvolvimento saudável da criança, preocupadas e indignadas.
Se por um lado são as crianças que vêem prometido seu futuro, por outro assiste-se um cenário que, em parte, as autoridades policiais têm agido de forma superficial. O que mais interroga a sociedade, em geral, é que esses actos são protagonizados por familiares próximos: tios, primos, vizinhos e até em casos mais radicais pelos próprios pais.
As ameaças às vítimas, o medo, a incerteza em principalmente o desconhecido do assédio e abuso sexual como crimes são as causas que contribuem no crescimento desse tipo de actos. As crianças e adolescentes que sofrem esses tipos de abusos passam a ter uma vida conturbada, um estado psicológico de susto e desconfiança por todos. A caminhada escolar depois desses actos muitas vezes vê-se interrompida, visto que as vitimas não se servem de um acompanhamento de um técnico em psicologia.
Algumas crianças ouvidas pelo “Correio da Matola”, na Matola, condenaram esse tipo de actos. Inocentemente opinaram dizendo que os que abusam física e sexualmente as crianças deviam passar o resto da vida na cadeia. Desabafaram tristes. Algumas nunca foram violentadas, mas o que a televisão e o rádio lhes trazem no dia-a-dia acabam sentindo-se violentadas, também. A escola tem sido o local fértil de debate desse assunto. Apesar de ultimamente a família tomar a palavra para falar desse mal.
Luísa Rui, aluna da quinta classe na Escola Primária São Dâmaso, disse que os violadores das crianças não devem só ser presos. Devem, também, sentir a dor que a criança sente no abuso. “Aqueles que violam as crianças deviam ser mandados embora do país. Pois esquecem que um dia eles também foram crianças. Nós, crianças queremos crescer bem. Estudar para sermos professores, engenheiros e presidentes no futuro. Titios não estraguem nossos sonhos”. Rematou a aluna enquanto no fundo um coro de vozes de crianças aplaudia seu discurso. Luísa disse que nunca foi vítima de abuso sexual. Mas, referiu que fisicamente já foi abusada por seu irmão mais velho. E deixou um conselho a todas crianças da sua idade. “Crianças denunciemos, na polícia, todo tipo de abuso. E nada de namorar antes da hora”.
Sara, da mesma escola, aluna da sétima classe, disse que as crianças, principalmente as meninas, devem evitar manter relações de amizade com pessoas desconhecidas ou mais velhas, pois isso pode facilitar qualquer tipo de abuso. “Tudo aquilo que os adultos fazem connosco, nós podemos não esquecer e não querendo podemos fazer com nossos filhos. Pedimos ao papá Nyusi para acabar com todo tipo de abuso às crianças. Pedimos a toda sociedade para respeitar os nossos direitos. E só assim iremos reconhecer e cumprir com os nossos deveres. Já não queremos crianças na rua, crianças que não vão a escola. Quando uma criança não vai à escola fica marginal”.
Cátia Massango, encarregada de educação de duas raparigas e um rapaz na Matola, disse que tudo o que as crianças querem para crescerem em paz e com muita responsabilidade é o nosso respeito e carinho como adultos. “Quando um pai violeta, sexualmente, a sua filha que tipo de sinal transmite a ela? Será que a mesma criança vai confiar em mais alguém algum dia? Se nossas crianças amanhã postarem-se de qualquer maneira, se forem marginais das ruas, não culpemos a elas, mas sim a nós como encarregados de educação. Afinal o que é um encarregado de educação? É aquele que é exemplo, espelho, modelo da criança. Se uma criança for a ver-te atirando uma casca de banana na rua, amanhã fará o mesmo”.