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Por: Sérgio Raimundo

É incrível como determinadas semi-realidades fabulosas acontecem-nos hoje com tamanha realidade e transparência. Rimo-nos às gargalhadas das trapalhices de alguns desenhos animados e, pela manhã as mesmas cruzam-nos os pés e perguntamos: afinal isso não era ficção?
Enfim! Às vezes pensamos que as fábulas só servem para nos fazer caminhar com segurança e sabedoria em vários caminhos da vida. Servem-nos, como ouvi desde a minha meninice, para sempre nos darem uma lição de vida.

Tenho constatado algo incrível nas gavetas no nosso cotidiano. O acontecimento de algumas fábulas que ouvi desde menino; principalmente a estória bíblica de Adão e Eva. Adão e Eva, como rezam as linhas bíblicas, fizeram algo que Deus disse que não deviam fazer. Deus lhes disse que podiam comer as frutas das árvores do jardim. Mas Deus disse que de uma das árvores não deviam comer, senão morreriam. Ele guardou essa árvore para si. Um dia, quando Eva estava sozinha no jardim, uma serpente falou com ela. Ela disse a Eva para comer do fruto da árvore que Deus havia proibido. Adão e Eva quando comeram do fruto proibido legaram à humanidade o pecado original. Os homens descendentes deles ficaram todos condenados a morte ou seja, a pagarem por uma maça que não comeram.

Actualmente parece-me que a maça de Adão e Eva comeram ou comem alguns e pagamos nós, por ela. Não aquela que condenou o homem à morte e a várias cruzes amargas. Fala-se hoje de duas maças; todas vermelhas: a tensão político-militar e a crise económica nacional. Essas duas situações que ocupam as duas mãos dos moçambicanos constituem, na minha visão, duas maças. A maça da tensão político-militar foi trincada por “alguns” que hoje não pagam por ela; essa maça vinga-se através de litros do nosso sangue, através das nossas vidas e acima de tudo vinga-se destruindo os baluartes da nossa esperança. A outra maça também foi trincada por bocas que não têm nossas línguas. E hoje todos jornais, televisões e rádios anunciam-nos que devemos pagar por essa maça. Todos nós e inclusive nossos netos deverão pagar por essa trincada. Teremos de trabalhar mais, gastar pouco, comprar pouca maça nas ruas da cidade, tomar um copo no lugar de três e até amar pouco nossas famílias e mulheres para repôr o pedaço tirado dessa maça.

Os descendentes de Adão e Eva é que mais sofrem pelos seus pecados e ousadias; assim acontece com todos nós. Pagamos por irresponsabilidades de adultos que manobram o país com Artes & Manhas. A única diferença entre essa narração bíblica e a nossa realidade é que nós convivemos com os responsáveis, com as bocas que comeram essas duas maças e nada fazemos. Essas mesmas bocas que trincaram as duas maças riem-se de nós em silêncio quando pagamos as suas egoístas trincadelas. E nada fazemos. Afinal que devemos nós fazer perante os nossos “Adãos e Evas”? Condená-los ou obrigá-los no mínimo a pagar pelas maças que despedaçaram?

Primeiro aceitamos pagar a mordida da maça da tensão político-militar com as nossas vidas; com o nosso sangue, com as nossas famílias destruídas por armas e bazucas. Fizemos isso. E ilude-nos a cada dia de bocas cheias que um trincou mais e o outro pouco. Senhores! Não nos interessam vossas querelas, paguem vocês pela maça.

A nossa pacificidade encheu-lhes de apetite os dentes e trincaram outra maça, a da crise económica; aliás, esta maça tem mais rosto de crise financeira. E hoje somos todos obrigados a pagar por ela. Oh! Enquanto pagamos por essas maças as cobras e os responsáveis por essas trincadas riem-se de nós como simples espectadores.