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As fofocas, cafés e impaciência compõem o triângulo da preguiça e ineficiência que se ergue nas mesas das nossas repartições púbicas. Esses factores são nutridos em cada guiché, público, pelo mal atendimento ao público em geral. E o mais impressionante em tudo isso é que o espírito de nada fazer alarga-se em todos sectores e em todos escalões. Nada se faz. O chefe acaba sendo o mestre dessa toda ineficiência.

As fofocas assaltam, logo pela manhã, as bocas de todos funcionários públicos. Das 7:30 as 8:00 enquanto o pacato cidadão aguarda trémulo de atraso, na bicha, os funcionários, como autênticos jornalistas suburbanos fazem o rescaldo de todos acontecimentos dos seus bairros e residências. Falam de suas vizinhas, maridos, primos, magrinhas e até filhos. Falam mal, usando expressões fora do alcance do cidadão, dos seus superiores e chefes. Quem nunca ouviu isso em conservatórias? Quem nunca participou numa dessas fofocas para ver passar o tempo, rapidamente, em uma secretária dum estabelecimento público?

Às 8:00 põem-se a iniciar as suas actividades, aliás, ajeitam suas xícaras, com flores, na mesa e aguardam o chá que a servente prepara. Amigo, isso não é uma narrativa, ou crónica, é pura realidade das nossas instituições públicas. Quando começam com o atendimento o fazem ainda rasgando com seus dentes unidades de bolacha “Maria” na boca. E no meio de tudo isso o cidadão continua esperando pelo seu atendimento. Atende-nos mal, esses funcionários, falam ao telemóvel sem pausa enquanto colocamos nossas inquietações e dúvidas. Mas, no meio da bicha, há sempre, um felizardo, uma enteada, um sobrinho, que fura a bicha e recebe um atendimento de um Very Important Person (VIP). Quantas vezes cruzamo-nos com esses cenários “atípicos” nas repartições de emissão de Bilhetes de Identidade? Quantas vezes somos obrigados a pescar em nossos bolsos as notas da corrupção para recebermos um atendimento a altura? A quem diga que nos locais públicos o bom atendimento paga-se. Mas, não um pagamento que provem dos nossos tão proclamados impostos; mas sim pelas notas da corrupção.

E enquanto reclamamos, a impaciência toma conta dos nossos funcionários públicos. Atende-nos como autênticos prestadores de favores. Atendem-nos como se do nosso suor não pusessem o pão na mesa das suas casas. Gritam-nos na cara no momento de tirar a fotografia do bilhete de identidade, falam com a boca cheia de desrespeito quando o velhote que não sabe assinar vacila na hora de carimbar sua impressão digital.

No meio dessas fofocas, sempre em voz baixa, sob o chão desses cafés intermináveis e na corrente dessa impaciência total, há sempre funcionários que merecem o nosso respeito. Funcionários que fazem da sua actividade um exercício de gentileza total e bem servir o público. São, na sua maioria, os que ingressaram no aparelho de Estado através do esforço próprio e não por meio das costas quentes dos padrinhos, tios e pais. Esses sim fazem dos guichés, locais íntegros; dão-nos informações ao pormenor e sempre procuram saber do cidadão atrapalhado: “há mais dúvidas? Em caso de dúvidas consulte-me”! Diga-se que estes funcionários estão em extinção. Estão, em cada fechar das portas públicas, desaparecendo. Cedem seus lugares a jovens apertados em fatos, verdadeiros devoradores do público (sempre com juba nas cabeças). Cedem lugares a jovens que regam, em cada atendimento, o jardim da corrupção com expressões como: “fala como homem; dá nota de refresco; procura solução no bolso”.