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Por: Sérgio Raimundo

Um País é uma mãe. Uma mãe que constantemente quer ser Pai, sem deixar de dar os seus seios aos filhos. Toco em cada pedaço do meu País tal como saboreio com as mãos o sorriso fraterno de uma mãe. Há tantos países que dormem dentro do meu País. Há países que fazem o meu País. E eu amo todo o meu País e amo todos países que nele dormem. Amo este País logo pela manhã, quando pela passarela da televisão desfila, maquilhada, sorridente, sem nenhuma humildade na cara; amo-o quando o amor preguiçoso da geografia o divide em distrito, aldeias, bairros, cidades, províncias; eu apenas o amo todo. Amo este País quando se deixa fotografar nu pelos jornais, pelos olhos curiosos de turistas.

Quem nunca viu o meu País em dia de chuva intensa? Ele sai de si; molhado, com os cabelos despenteados, a boca ferida por harpa, as mãos abertas com sede de um abraço profundo. Liberta de si outros países pequenos. Tão pequenos e meigos. Lhanos e reluzentes. Países pequenos que saem trémulos de frio, enroupados de pingos de chuva, com uma tosse miúda escorrendo-lhes o peito; pequeno, tão pequenos como um caroco de amêndoa. Quando lhes vejo saindo do meu País, em dia de chuva, faz tanto frio em minha alma, que me apetece tocá-los ao de leve; dar-lhes um cobertor de ternura. E o meu País, como uma autêntica adolescente, vai ao salão, trata dos seus cabelos. Passa um verniz de prata nas unhas longas e ferozes.

Amo todas as pontes que servem de caminho do meu amor, pelo meu País. Pontes firmes e inseguras. Pontes que apesar da fragilidade dos seus pilares, ainda suportam levar o meu amor. Amo todos rios que diariamente lavam a cortina do meu amor: Maputo, Licungo, Save, Zambeze, Limpopo. Amo o meu País quando o sol de Dezembro chega e ele vem cansado, suado, carregado de malas com o coração palpitando minas da África do Sul, meu outro amor. Amo com “M” maiúsculo de Moçambique: Majune, Mueda, Moatize, Milange, Mossuirize, Marromeu, Memba, Massinga, Massingir, Moamba.

Amo com o mesmo amor de ontem, o País de hoje. Amo com o mesmo amor que ontem inspirou os navegadores lusos a darem nomes aos países que há dentro do meu País: amo a Cidade Cabral de Lichinga com a mesma carícia de amor fraterno; amo de mãos cheias de fogo e rosas de beijos a Cidade de São Tiago que hoje cheira bem a Cidade de Tete; amo a Cidade de Beira com os seus dois bracos estendidos, de Manica à Sofala; amo o Porto Amélia que hoje despiu o vestido de distrito de Zambeze; amo a cidade de Nampula com os mesmos beijos suados de mel; amo a Cidade de João Belo que hoje passeia, maquilha-se e desfila sobre o Limpopo como Gaza; amo a Terra da Boa Gente, que em noites de insónia segreda-me retalhos de notas e escalas de Timbila de Inhambane; e amo com todos amores amados a Cidade de Lourenço Marques, seu corpo com pêlos de acácias, sua boca cheirosa e ensalivada pela água da Costa do Sol.

Entre a paisagem do amor que sinto e os passos que este amor deixa no corpo do meu País nasço e canto este berço materno. Amo todos países que escorrem sob formas de províncias nos onze corações do meu País. Amo a sinfonia de fofocas e mentiras que ressoam a cada segundo nos meus ouvidos sobre o meu amor.