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Por: Sérgio Raimundo

Antes de começar a expor o que me escorre na pele da opinião sobre o tema enunciado, proponho-me a começar por desfazer ou desconstruir (no sentido de Derrida) o termo “retórica”. Palavra-chave desse artigo.

O termo retórica de acordo com alguns dicionários provém do grego retoriké que significa a arte da oratória. Assim, a retórica pode ser entendida como sendo a arte de utilizar a linguagem em um discurso persuasivo, por meio do qual visa-se convencer uma audiência da verdade de algo; técnica argumentativa, baseada não na lógica, nem no conhecimento, mas na habilidade em empregar a linguagem e impressionar favoravelmente os ouvintes.

A Retórica surgiu na antiga Grécia, ligada à Democracia e em particular à necessidade de preparar os cidadãos para uma intervenção activa no governo da cidade. "Rector" era a palavra grega que significava "orador", o político. A Retórica é uma ciência por excelência apesar de alguns teóricos reduzirem-na a uma simples actividade de comunicação. Ela é tida como uma ciência que se ocupa dos princípios e das técnicas de comunicação. Não de toda a comunicação, obviamente, mas daquela que tem fins persuasivos.

Entretanto voltando ao tema exposto, e em particular, aplicando o conceito de retórica à política da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) pode-se concluir que ela faz uso de uma retórica armada, politicamente. Uma retórica que quer convencer com um discurso belicista. Uma retórica que se impõe sobre a Nação por meio de balas e ataques permanentes. Este aspecto, de uma retórica sustentada por um discurso de medo e armas, tem-se mostrado como infrutífero em vários níveis. A retórica armada, caro leitor, cria medo e não convence. Deixa de semear acções políticas e cultiva guerrilhas que bebem litros de sangue e desfazem vidas e esperanças. É importante que membros desse Partido abandonem essa retórica se quiserem se afirmar e um dia governar o país.

É importante o uso de uma retórica persuasiva politicamente bem polida. A persuasão e convimento dos espíritos ou auditório à uma tese podem ser conseguidos através da argumentação racional sem uso da violência ou coação. Pois o uso de violência sobre o indivíduo ou auditório constitui um desrespeitar da liberdade de juízo.

Chaïm Perelman, pai da Nova Retórica, reporta-nos que o uso da argumentação implica que se tenha renunciado a recorrer unicamente à força, que dê apreço à adesão do interlocutor, obtida graças a uma persuasão racional, que este não seja tratado como um objecto, mas que se apele à sua liberdade de juízo. O recurso à argumentação supõe o estabelecimento de uma comunidade dos espíritos que, enquanto dura, exclui o uso da violência.

O mesmo pensador alerta-nos que o recurso à argumentação pressupõe uma comunidade de espíritos, ou seja, no lugar da univocidade, defendia a pluralidade de ideias que poderiam ser discutidas, sem se recorrer ao uso da violência ou da coerção. Isto leva-nos a concluir que a não imposição de teses, através da violência, é no fundo a aceitação do perspectivismo argumentativo. O perspectivismo argumentativo, tem sido tomado como “joker” no baralho de cartas da RENAMO. Assistimos isso em todas secções de diálogo que sempre resultam em fracassos.
Uso da violência no discurso, a imposição de uma perspectiva argumentativa, ou seja a retórica armada nega, como referimos, a liberdade de juízo. Uma liberdade importante no diz respeito a consolidação política e social de qualquer grupo social. O reconhecimento do outro é sempre uma condição primária no processo de qualquer diálogo.

É preciso que a RENAMO saiba que se escolhe a palavra para se exercer ou pôr em andamento as suas acções, é porque renuncia à violência; pois toda argumentação pode ser encarada como um substituto da força material que, pelo constrangimento, se propõe obter efeitos da mesma natureza. E todos os homens armados desse partido deviam saber que qualquer processo argumentativo, assente necessariamente na discursividade como modo da racionalidade, está a renuncia à violência, isso significa que o seu ponto de partida, a sua condição de possibilidade, tem de ser um acordo sobre um certo número de coisas. O “Obama de Moçambique” devia saber que argumentar sustentando uma opinião contra um adversário num diferendo é já reconhecê-lo como interlocutor, renunciando à violência da imposição e reconhecer no outro a dignidade de quem pode ser racionalmente convencido. É um reconhecimento da outra consciência de si e da sua liberdade.