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Por: Sérgio Raimundo

Tudo que acontece, hoje, se Samora fosse vivo não ia acontecer, meu filho. Samora era um homem de regras, de deveres e acima de tudo de direitos bem limitados. Nos tempos de Samora havia um limite, bem rígido entre os deveres e os direitos. Era como se esses dois conceitos fossem divididos por um arame farpado bem afiado. Quem saísse de um dos lados sem autorização e sem consentimento do Estado era bem reeducado: Porrada em público. Esses que andam a fumar drogas de qualquer maneira na rua e em suas casas seriam punidos com uma boa chicotada. Tudo era disciplinado no tempo de Samora. Às 20h na rua só circulavam polícias e às vezes, também, feiticeiros. Digo às vezes porque até os feiticeiros menos experientes tinham medo da rigidez de Samora.


Se esse fosse tempo de Samora todas essas meninas que andam semi-nuas nas ruas sentiram a dor de mostrar as partes íntimas num campo de reeducação. Samora, com certeza, mandaria todas elas ao campo para produzirem e alimentar o povo e não andarem por aí produzindo metical à custa do corpo. Samora era contra essa imoralidade que hoje faz viver tanta gente. Samora não gostava de impostura, nudez, desvalorização do corpo da mulher, assim como do homem. Aquele era presidente de verdade.
A educação, com certeza não seria automática. Samora sempre via a escola como local da tomada de poder e ponto de partida do desenvolvimento social e económico. As passagens com Samora seriam manuais. Os professores teriam licença, quase oficial, para darem palmatórias aos alunos indisciplinados, agitadores do sossego e autênticos destruidores das escolas. Nenhum pai iria interferir em cada chapada que o instrutor desse ao seu educando.


Os nossos impostos seriam para erguer o bem comum. Os nossos impostos não terminariam em bolsos de alguns ambiciosos, mercenários que roem as paredes da nossa pátria. O imposto seria pago com alegria. O imposto seria usado para comprar tractor para o agricultor de Nampula ou Manica.
As nossas crianças aprenderiam a ler antes de ir a escola, pois para Samora a família era a primeira e a mais importante escola. Hoje já não se pensada assim. Nossas famílias viraram locais de desencontros; encontramo-nos com nossos filhos só na hora de ir a cama. Não acompanhamos o percurso dos nossos filhos. Nossos filhos procuram afogar a infância em redes sociais numa tranquilidade parva dos pais. Com Samora isso seria diferente.
Esses médicos falsos que a cada dia invadem o serviço de saúde, esses motoristas que ao invés de dar um ”bom dia” a cada passageiro que transportam, insultam-no seriam bem punidos. Essa onda de violadores de criança que hoje parece moda nem levaria um dia para desaparecer. Samora era visionário e é dele que a sociedade actual precisa para superar todas essas brincadeiras que temos vistos.
Com Samora Machel o sistema nacional de educação formaria verdadeiros doutores que usariam os seus conhecimentos para o desenvolvimento da pátria, e não homens comuns que limitam os seus conhecimentos aos seus egos e desejos. Com Samora as escolas técnicas formariam mestres que produziriam instrumentos de trabalho que alimentariam o povo; instrumentos que, quando bem usados, enterrariam toda essa pobreza. Digo-te, meu filho, se Samora fosse vivo o país não gastaria rios de dinheiros para formar doutores lambe-botas sem vergonha.
Com Samora a polícia não criaria insegurança por onde passasse e nem usaria o metical como chave para libertar o recluso das celas. Os cortes, de cabelos, de nossos filhos seriam bem uniformizados. Não se faria essa pouca vergonha de pintar cabelos. Digo-te, para finalizar, a selecção nacional de futebol já teria participado em um campeonato Mundial de Futebol. Com Samora até um moçambicano já teríamos mandado para a lua.