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Por Sérgio Raimundo

Eu sou louco sem limites como sempre diz qualquer um que nunca esteve ao meu lado. Gostava de ser um cidadão-não-louco como tantos outros que o são. Mas que fazer; a loucura é o meu estado de máxima consciência e lucidez. Estar não louco para mim é que é estar deveras louco. Formulei a lei da loucura e suas teorias ainda no ventre da minha mãe. Os Nhamussoros já sabiam que minha mãe não carregava no seu ventre um Doutor, um Engenheiro, um Autodidacta, mais sim suportava um feto com loucurologia. Minha mãe chorava dia e noite, rogava aos Xicuembos para ter um filho não louco, mas como dizia um sábio alemão, Deus dá a solução quando o problema é fácil. Que tem haver Deus com a minha loucura? Deus deve cuidar dos que sofrem dia e noite, dos que rogam a sua ajuda. A minha loucura não é nenhuma doença. Sou menos louco do que quem diz que não o é. A minha loucura é do tamanho da minha alma. A minha loucura desafia todos: Wilhelm Wundt, Carl R. Rogers, Sigmund Freud e Jacques Lacan.

Há dias andei com a alma fora do corpo e com o coração distante de mim. Isso acontece-me frequentemente quando escrevo cartas para amigos do futuro ou quando a noite me desabrocha um sol muito triste. Gosto também de orar pelas almas de criaturas frágeis, criaturas que morrem por motivos vários, criaturas que se fazem acontecer no interior do solo, madeiras velhas e nos ombros de folhas das árvores. Choro sempre quando acordo feliz. A felicidade é como um cigarro, vicia e mata vagarosamente por dentro. Não gosto sinceramente de conhecer muita gente. Conhecer muita gente cansa e, segundo minha doutrina, é uma péssima forma de se nutrir socialmente. Conhecer muita gente cria incerteza do que somos e nos faz esquecer de nós próprios para vivermos essa tanta gente.

O humanista Indiano, Gandhi, sempre dizia: Todo aquele que possui coisas de que não precisa é um ladrão. Não há hesitações que além de louco do primeiro hemisfério, sou ladrão infalível. Aliás, nem a loucura é um estado que sempre desejei, nem a morte que carrego nas costas. Tropeço sempre e caio dentro de mim quando falo da morte. A morte é um grande presente que a vida nos dá, por vivê-la mal. Todos recebemos este presente, porque vivemos a vida com uma incompetência digna de a cantar com vuvuzelas. Ninguém vive bem. Ninguém vive bem a loucura como eu. Quem neste mundo já escreveu textos no sono? Quem já compôs uma canção com notas de lágrimas de sangue? Quem já amou até o amor o tornar louco? Somente um louco com eu.

Hoje ao acordar, na varanda da minha alma, vi um recado bordado com letras de pedras sobre um papel de água que dizia:
Excelência Senhor louco por excelência acaba de ser notificado para ser internado num asilo de loucos bacharéis, tudo isso para proteger a saúde psicológica social…

Assinatura: Anónimo não louco.

Data: Escolha você, Senhor Louco…